Quando a dor no corpo pede atenção – e você ignora

A dor é um sinal de alerta do corpo, não algo que deve ser normalizado. Há algumas dores mais comuns que merecem atenção e que não devem ser ignoradas

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A dor é um sinal que o corpo manda quando algo está desequilibrado. Mas, muitas vezes, ela é silenciada e normalizada no dia a dia – e isso pode ser perigoso

Culturalmente, muitas pessoas foram ensinadas a suportar a dor como parte da sua rotina. Frases como “aguenta firme”, “isso passa” ou “dor é frescura” ainda são ditas e ouvidas em ambientes familiares, profissionais e até mesmo por médicos. O resultado disso é uma sociedade que ignora os alertas do próprio corpo, normalizando sintomas físicos e emocionais que deveriam ser levados a sério.

Mas a dor tem uma função biológica muito clara e essencial para a preservação da saúde: ela é um mecanismo de defesa e comunicação do corpo humano. Quando sentimos dor, é porque há algo fora do lugar – uma inflamação, uma tensão muscular, um desgaste físico ou até mesmo um problema emocional que pode estar se manifestando fisicamente.

Ignorar esses sinais pode levar ao agravamento do quadro clínico, ao desenvolvimento de doenças crônicas e à perda da qualidade de vida. 

Segundo dados da edição de 2023 do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil), financiado pelo Ministério da Saúde, quase 37% da população brasileira acima dos 50 anos convive com algum tipo de dor crônica – e, em muitos casos, por não terem buscado ajuda quando os sintomas começaram a aparecer.

As dores mais comuns que não devem ser ignoradas

É muito comum mascarar a dor com analgésicos ou buscar soluções rápidas como automedicação, alongamentos ou compressas. Mas o ideal é entender o que está por trás da dor. Algumas das dores mais ignoradas e que merecem atenção são:

  • Dores nas costas (cervicais ou lombares): podem estar associadas à má postura, sobrepeso, sedentarismo ou até mesmo ao estresse;
  • Tensão nos ombros e no pescoço: geralmente são sintomas que aparecem em períodos de sobrecarga mental e emocional;
  • Dores de cabeça frequentes: podem ser causadas por enxaquecas, tensão muscular, distúrbios visuais, problemas na ATM (articulação da mandíbula) ou até ansiedade;
  • Dor abdominal persistente: pode indicar desde problemas digestivos até problemas hormonais e emocionais;
  • Dores articulares recorrentes: precisam ser investigadas por especialistas, especialmente se também possuem rigidez ou inchaço;
  • Sensações de “peso” no corpo, especialmente ao acordar: muitas vezes relacionadas à exaustão emocional e falta de recuperação do sono.

O contexto social da dor: por que ignoramos o que sentimos?

Em uma sociedade que valoriza produtividade e resiliência mesmo em casos em que há a necessidade de ajuda, há uma ideia equivocada de que reclamar de dor é sinal de fraqueza. Esse pensamento, infelizmente, leva muitas pessoas a ignorarem o sofrimento físico de maneira silenciosa, e até mesmo se sentirem culpadas por procurarem ajuda.

Essa realidade é ainda mais dura para mulheres, segundo pesquisa publicada pela The Lancet, que mostra que a dor relatada por mulheres é menos levada a sério por profissionais de saúde, gerando atrasos no diagnóstico e no tratamento de doenças como endometriose, fibromialgia e doenças autoimunes.

Além disso, trabalhadores informais ou autônomos muitas vezes não conseguem parar para cuidar da própria saúde, com medo de perder sua renda. Com isso, sintomas simples evoluem para doenças que incapacitam essa parcela da população.

O que fazer em vez de se acostumar com a dor?

Acostumar-se com a dor é bastante perigoso e desnecessário, e algumas atitudes podem ajudar a mudar esse cenário:

  • Escutar o corpo com atenção: observe quando e como as dores aparecem, pois elas têm padrões, gatilhos e horários;
  • Buscar ajuda profissional desde os primeiros sinais: um clínico geral, fisioterapeuta, ortopedista ou psicólogo podem ajudar a investigar a origem da dor;
  • Adotar hábitos saudáveis: boa alimentação, sono de qualidade e pausas para descanso são medidas preventivas importantes;
  • Exercitar o corpo com regularidade e consciência: movimento é essencial, mas deve ser feito com orientação para não agravar quadros dolorosos preexistentes;
  • Tratar a saúde mental como parte da saúde física: ansiedade e estresse se somam. Terapias cognitivas e hábitos de autocuidado são poderosos aliadas na saúde;
  • Evitar a automedicação e o uso contínuo de analgésicos: isso apenas mascara o sintoma e dificulta o diagnóstico correto.

Viver com dor não é sinônimo de maturidade e nem de força

É preciso desconstruir a ideia de que suportar dor é sinal de resistência. Pelo contrário: viver com dor, dia após dia, só gera cansaço, irritabilidade e uma vida limitada. 

Cuidar da saúde e procurar ajuda profissional diante de qualquer sintoma persistente é uma atitude de inteligência e respeito com o próprio corpo. Seu bem-estar não é um luxo, é uma necessidade.

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