Como a depressão pode coexistir com sorrisos – e como a química cerebral influencia esse comportamento surpreendente
A depressão é uma doença mental complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, a prevalência de depressão ao longo da vida é de aproximadamente 15,5% da população, segundo o Ministério da Saúde.
Nesse contexto, uma das questões que frequentemente surge é: por que algumas pessoas com depressão ainda conseguem sorrir, aparentando estar bem, mesmo que no fundo não estejam?
A química do cérebro na depressão
A depressão não é apenas uma questão de tristeza persistente; ela também envolve alterações significativas na química cerebral. Alguns neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina desempenham papéis fundamentais na regulação do humor, motivação e prazer.
Estudiosos especialistas indicam que, na depressão, há uma desregulação desses neurotransmissores, o que resulta em sintomas como anedonia (incapacidade de sentir prazer), fadiga e alterações no sono e apetite.
Além disso, a depressão pode levar à atrofia de áreas cerebrais envolvidas na regulação emocional, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, e essas mudanças estruturais podem afetar a capacidade de processar e expressar emoções de maneira adequada e eficiente.
Possíveis causas e fatores de risco
A depressão envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Entre as causas mais reconhecidas estão:
- Genética: um histórico familiar de depressão pode aumentar o risco de desenvolver a doença;
- Alterações neuroquímicas: desequilíbrios em neurotransmissores e alterações hormonais podem contribuir para os sintomas;
- Eventos traumáticos ou estresse crônico: experiências de perda, abuso, bullying ou dificuldades financeiras aumentam a vulnerabilidade;
- Doenças físicas: condições crônicas, como diabetes, doenças cardíacas ou distúrbios hormonais, também podem estar associadas à depressão;
- Fatores ambientais: isolamento social, falta de apoio emocional e pressões culturais podem agravar o risco de desenvolver a doença
Subtipos de depressão
A depressão apresenta diferentes manifestações que são classificadas em subtipos, sendo os mais comuns:
- Depressão maior: tristeza intensa, perda de interesse e alterações no sono e apetite;
- Depressão atípica: episódios com aumento de apetite e sono excessivo, podendo mascarar a tristeza com sorrisos e bom-humor;
- Distimia: depressão leve, mas que persiste ao longo do tempo e pode influenciar no desempenho profissional e vida social;
- Bipolaridade com episódios depressivos: alternância entre fases de euforia e depressão.
Cada subtipo influencia o comportamento e pode explicar por que alguém com depressão ainda consegue aparentar alegria.
É importante destacar que o desequilíbrio de serotonina sozinho, possivelmente, não é o único motivo que pode explicar completamente a depressão. Estudos recentes apontam que ela envolve uma rede complexa de fatores biológicos, incluindo dopamina, noradrenalina, cortisol e processos inflamatórios.
O fenômeno da “depressão sorridente”
O termo “depressão sorridente” faz referência àqueles que, apesar de estarem enfrentando sintomas depressivos, conseguem manter uma certa normalidade, frequentemente sorrindo e aparentando estar bem. Isso pode ocorrer devido a diversos fatores, incluindo:
- Mecanismos de coping: estratégias de enfrentamento e esforço cognitivo para lidar com situações desafiadoras ou estressantes e conseguir manter a rotina;
- Depressão atípica: caracterizada por sintomas como aumento do apetite e hipersonia (sono excessivo e incontrolável durante o dia), que podem mascarar a tristeza profunda;
- Expectativas sociais: pressão para aparentar bem-estar (em ambientes sociais, familiar ou profissional) mesmo com grande sofrimento interno.
Recomendações para se prevenir e apoiar
Embora a depressão não possa ser totalmente evitada, pois ela não é transmissível, algumas práticas ajudam na prevenção e na manutenção da saúde mental:
- Manter uma rede de apoio social sólida e poder se mostrar vulnerável de maneira confortável e segura;
- Praticar atividades físicas regulares, que estimulam neurotransmissores como dopamina e serotonina;
- Ter hábitos de sono e alimentação saudáveis e nutritivas;
- Buscar ajuda profissional ao identificar sinais de depressão;
- Criar momentos de lazer e relaxamento em meio à rotina para reduzir o estresse
O diagnóstico e tratamento
A “depressão sorridente” pode tornar o diagnóstico mais desafiador, levando em conta que os sintomas não são evidentes para quem convive com quem a possui.
Entretanto, profissionais de saúde mental devem estar atentos a sinais sutis, considerando avaliar seus pacientes de forma mais abrangente e que inclua entrevistas clínicas e ferramentas de triagem padronizadas para este tipo de caso.
O tratamento adequado, envolvendo psicoterapia, suporte social e, quando necessário, medicação, pode melhorar significativamente a qualidade de vida.
Entender a complexidade da depressão, incluindo suas causas, fatores de risco e o fenômeno da “depressão sorridente”, é essencial para oferecer um apoio adequado a quem necessita. Sorrisos podem coexistir com dor profunda, por isso, a atenção, empatia e informação correta podem fazer a diferença para quem vive com depressão.